Encontro as cegas

Encontro as cegas
Conheço a Lena numa daquelas noites em que, fartos de nos verem sozinhos, os amigos nos levam a sair e, como quem não quer a coisa, nos apresentam uma colega do trabalho que encontraram “por acaso”.

Encontro às cegas
Um simples olhar entre nós é suficiente para percebermos o esquema que, diga-se, não é muito original. Mas nenhum de nós quer defraudar o esforço dos nossos “alcoviteiros”, por isso sentamo-nos perto um do outro decididos a representar o nosso papel de acordo com o esperado. No final da noite, quando inevitavelmente formos cada um para o seu lado, pelo menos não poderão dizer que não tentámos…

– Quanto mais depressa começarmos a falar, mais cedo percebemos que não temos nada a ver um com o outro e podemos acabar com o teatro.
– Também te acontece isso? – responde-me ela, com um sorriso espontâneo e, tenho que admitir, bastante atraente.
– Todas as vezes… Se pensarmos bem, o próprio conceito de “encontro às cegas” já faz antever o pior.
– Não sei… Dizem que “o amor é cego”.
– Também dizem que “o pior cego é aquele que não quer ver”.

Outra vez o sorriso.

– Talvez tenhas razão, sim. Se começar a pensar nos gajos que já me tentaram arranjar… Desde o tímido inveterado àquele que 30 segundos depois de saber o meu nome já era todo mãozinhas.

Parece que estamos a comparar cicatrizes.

– Uma vez trouxeram-me uma rapariga que trabalhava numa dessas clínicas do pêlo, sabes? Esteve três horas a falar de técnicas de depilação, como descobriu o seu “dom” ao depilar o namorado, como passava horas a depilar-se a ela própria e como finalmente arranjou o seu emprego de sonho.

E ainda o sorriso, mais aberto. Reparo que tem uns dentes lindos.

– Ui. Como é que isso acabou?
– No final da noite queria levar-me para casa, mas eu disse-lhe que gostava de mulheres com pêlo na venta. Não podia resultar…

Não é à toa que insisto no sorriso. Sinto-me como que hipnotizado por ele e é ele que me inspira a ser agradável. Mas é quando a vejo rir pela primeira vez que fico definitivamente desconcertado. É como se um objecto misterioso de repente se revelasse um instrumento musical e, sem nada nos preparar para isso, começasse a debitar a mais bela das melodias!

Lena não tem uma beleza imediata, mas uma daquelas belezas que se vai construindo à medida que a vamos descobrindo. Vem-me à ideia que parece desenhada para mim, que nunca gostei de nada demasiado óbvio.

Aproveito que ela se levanta para ir à casa de banho para a apreciar de corpo inteiro. Não há nada que não me estimule. A sua alegria contagiante tem todo o redor em harmoniosa concordância.

Olho para a outra ponta da mesa, onde está a amiga comum que nos apresentou, e ela olha de volta com uma expressão de vitória, como se dissesse:
– Desta vez acertei em cheio!
Sorrio-lhe e penso que, por uma vez, talvez tenha razão.

– Porque é que achas que eles sentem necessidade de fazer estes arranjinhos? – pergunta-me a Lena, quando se volta a sentar. Cheira bem, um cheiro a transpiração misturado com plantas de jardim.

Começo a divagar. Tento impressioná-la.

– Essencialmente, por duas razões. Primeiro, a vontade muito humana que toda a gente tem de ser Deus. Passamos a vida a sentir que não temos verdadeiramente o controle sobre nada. Então, criamos pequenos projectos que nos dêem a ilusão de que, às vezes, somos capazes de mexer os cordelinhos. Dá-nos uma sensação de poder.
– Nós somos as marionetas deles…
– Exacto. A segunda razão é que estão felizes e acham que o seu modelo de vida é que está certo. Olham para nós e não conseguem acreditar que estamos bem assim. Recusam-se a admitir que há estilos de vida alternativos…
– Alternativos? Tipo quê?
– Tipo nós. Estar sozinho não significa automaticamente sentirmo-nos sós.
– Acertaste em cheio. Falando por mim, nunca estive tão bem…
– Houve um poeta que disse que “às vezes vale mais só do que bem acompanhado”.

Lena ri-se outra vez. O tempo corre e cada minuto parece acrescentar-me um novo motivo de interesse em relação a ela.

Passamos a noite a conversar como se nos conhecêssemos há muitos anos. Fico a saber que tem um curso de psicologia mas que abandonou essa prática para se tornar agente imobiliária, que considera a sua verdadeira vocação. Adora entrar na casa das outras pessoas, observar os seus objectos, perscrutar nos seus segredos… É uma forma discreta e funcional de alimentar um fetiche voyeurístico que sente desde muito nova, quando espiava a mãe a fazer amor com os namorados. Segundo conta, lá em casa era tudo muito “liberal”.

Neste ponto da conversa, eu próprio sinto a minha costela voyeur (assim como outras partes do corpo mais externas e invasivas) a dar sinal. Experimento uma necessidade absoluta de saber mais coisas sobre esta mulher. E tenho a sensação de que o sentimento é recíproco.

Quando chega a hora de nos despedirmos, percebemos que nenhum de nós tem vontade de o fazer.

Lena rabisca algo num cartão e entrega-mo. Brinca:

– Não te levo para casa porque não te conheço de lado nenhum. Mas se quiseres falar comigo, eu trabalho num call center para corações solitários.
Leio o que ela escreveu no cartão: Sargent Pepper, e um número de telefone.
Percebo a piada. Lena dá-me um beijo no canto da boca (propositado ou um erro de cálculo na aproximação das bocas?) e afasta-se. Sobe a rua e espero para ver se, antes de dobrar a esquina, ela se vira para trás. Não vira.

Apanho um táxi e 20 minutos depois estou em casa. Ligo-lhe imediatamente porque não posso esperar mais. Convido-a para a receita tradicional dos dates americanos: dinner and a movie.

– Amanhã parece-te bem?

Tenho subitamente uma pressa de viver que há muito não sentia. No entanto, para minha surpresa, ela hesita:

– Humm… Não sei. “Amanhã…”?
– Estou a ir muito depressa?
– Estás a ir muito… devagar.

Fico baralhado.

– Como assim…?
– Convidas-me para um programa “amanhã” quando há uma noite inteira à nossa frente…? Não me pareces muito empenhado em estar comigo.

Não percebo se está a gozar comigo ou se apenas me quer desorientar. Seja o que for, está a ser bem sucedida.

– Quero estar contigo agora, já, neste momento! – exclamo, com demasiado ânimo, parece-me.

Ouço-a rir do outro lado da linha e a seguir um silêncio que me parece eterno.

– Já vamos ver isso… – diz, finalmente. – Aponta este endereço.

Dita-me uma morada, que anoto rapidamente, e ordena, com uma voz de comando que ainda não lhe tinha ouvido mas que me deixa os sentidos no programa máximo de centrifugação:

– Espera-me lá daqui a uma hora.

E desliga.

Uma hora depois paro o carro na morada indicada e Lena entra. Tinha mudado da roupa casual para uma espécie de uniforme, um conjunto de calça e casaco justos, de um cabedal negro e brilhante, com zippers dourados de alto abaixo. Não consigo evitar uma certa fixação por aquela novidade e ela apanha-me no acto.

– O que foi?
– Nada. Desculpa… Pareces… Um super-herói.
– Eu sou um super-herói. Sou a super-gaja!

E outra vez naquela voz de comando:

– Estás à espera de quê? Arranca!

Carrego no acelerador sem saber para onde vou, mas ansioso por lá chegar.

Nos primeiros cinco minutos Lena vai-me dando indicações.

– Vira agora à esquerda.
Depois à direita e, entretanto, directamente ao centro…
– Antes de chegarmos é melhor passar revista ao material. Vamos lá ver o que temos aqui…

Com os olhos na estrada não percebo logo ao que ela se refere. Percebo depois, quando sinto o fecho das calças a abrir e uma mão quente a esgravatar no meio das minhas pernas. Tem a palma da mão macia e parece-me que uma luva de veludo me agarra no caralho, que não demora a ficar duro.

– Agora estás das minhas mãos!

Engulo em seco, sem dizer uma palavra, para que nenhum dos dois se distraia do que está a fazer.

Dez minutos depois sinto que me posso vir a qualquer momento. Não sei se ela trava por o ter percebido pela minha respiração acelerada, ou pelo facto de termos chegado ao nosso destino.

– Pára aqui.

Na rua deserta, apenas as luzes ténues das vivendas, muito afastadas umas das outras, identificam que se trata de uma zona residencial.

– Vem comigo.

Não precisava de o dizer, eu teria ido atrás dela de gatas, a abanar a cauda e a cheirar-lhe o rabo… (nada torna os homens mais perfeitamente idiotas do que a expectativa de um encontro sexual).

Entramos na primeira moradia e Lena acende a luz num nível moderado. Com uma curiosidade natural, os meus sentidos preparam-se para analisar o espaço, que desde logo se percebe ser sumptuoso e sofisticado. Concluo que provavelmente será um dos imóveis que está a vender e penso em perguntar-lhe a quem pertence, mas um som metálico rasga o silêncio e imediatamente muda o foco da minha concentração: Lena abriu os fechos do casaco e das calças e, em menos de um segundo, está em lingerie à minha frente!

Não tenho tempo sequer de esboçar uma reacção. Agarra na minha mão e mete-a dentro das cuecas:

– Agora estou eu nas tuas mãos!

Percebo o recado e começo a masturbá-la vigorosamente, na medida da minha própria excitação. Mas ela é mulher e tem um ritmo diferente.

– Mais suave… Não metas os dedos lá dentro… Faz só no clitóris, devagarinho.

Faço como ela diz e a resposta às suas instruções é instantânea: aproxima a sua boca da minha e começa a beijar-me e a gemer ao mesmo tempo. Geme-me para dentro da boca.

– Estás toda molhada… – digo. Tenho os sentidos reféns do corpo dela, das possibilidades dela, e não consigo articular mais do que constatações do óbvio.
– Estou molhada desde que me sentei ao pé de ti. Cheiras a homem.

Fico um pouco atrapalhado. Na verdade, não tivera tempo de passar por casa para tomar banho depois do trabalho, antes de sair para a noite. Mas não digo nada.

Lena está tão excitada que não se consegue aguentar nas pernas. Deixa-se cair aos meus pés, mas não a largo da mão.

– Lembras-te quando fui à casa de banho? – a voz de Lena parece derreter. – Tive que me masturbar… Mas não me vim. Queria que tu me fizesses vir.
– Ah, por isso é que senti um cheiro diferente quando voltaste…
– Sentiste? És muito perceptivo. E gostas? Gostas do meu cheiro a cona?

Sinto-o agora mesmo, a escalar desde o interior das suas cuecas e entrar directamente nas minhas narinas, como um incenso regenerador.

– Adoro o teu cheiro a cona. Deixa-me louco!

Mal digo isto e Lena tira a minha mão de dentro dela e levanta-se. Parece uma manobra para me tantalizar, como se seduzisse uma criança com um doce para logo a seguir lho tirar. Mas talvez, afinal, seja o inverso. Puxa-me as mãos para os seios descobertos e, de certa forma, dá-me instruções para a tantalizar a ela.

– Toca-me nos mamilos!

Agarro-lhe primeiro nas mamas com as mãos cheias, para lhes sentir a consistência. São macias e perfeitas. Ela protesta… Não é assim.
Então, com os dedos mindinhos, começo a brincar com os bicos rijos e carnudos. Sinto-os entumecer nas minhas impressões digitais.

Lena acusa prontamente o toque e contorce-se ao primeiro contacto. Bandeia-se e roça o rabo contra a minha cintura, como se tentasse enterrar-se no cilindro de carne que se entesa nas suas costas e fuça nela à procura de uma aberta.

– Sinto teu pau duro na minha cona!
– Quero-te foder!

Quero esfregar-me nela com mais força mas, mais uma vez, Lena foge com o rabo à seringa. Começo a ficar endoidecido com aquele toca-e-foge. Mas isso não significa que não esteja a adorar cada momento. Lena sabe fazer-se desejar. E, sobretudo, sabe o que deseja.

Num repente algo bruto, puxa-me as calças para baixo e ajoelha-se à minha frente. Pega nos meus testículos e no meu caralho ao mesmo tempo e, fechando os olhos, cheira o conjunto profundamente. Só depois o mete na boca.

– Não te venhas – avisou.

É mais fácil dizê-lo do que evitá-lo. Lena começa a chupá-lo bem até ao fundo, lambendo-me os tomates cada vez que o enfia na boca. Olho para baixo, pois é uma técnica digna de ser vista, e reparo que enquanto me suga se masturba ao mesmo tempo, com dois dedos inteiros dentro da cona. Há pingos de suco vaginal no soalho por baixo dela.

Além disso, não sei como o faz mas, mesmo com a boca cheia de picha, consegue falar com a destreza de uma locutora de continuidade:

– Tens um caralho lindo e saboroso. Adoro-o!

Tudo aquilo me conduz para o abismo da resistência, mas quando sinto que me toca com a ponta de uma unha no olho do cu, não aguento mais!

Agarro nela como um urso enfurecido, viro-a ao contrário e atiro-a de maço para cima de um sofá. Puxo-lhe o cu para cima e, posta a jeito, enfio-me dentro dela duma só vez. Por pouco não lhe meto os tomates dentro da cona!

Lena grita de surpresa e de prazer. Começo a martelar dentro dela como um pica-pau no tronco de uma nespereira.

– Ah, foda-se, cabrão! Fode-me toda, filho da puta! Ai…! Foda-se, foda-se, foda-se… Estou-me a vir! Estou-me a vir! Estou-me a………… Ahhhhhh!!!!

Não sei que milagre me impede de me vir ao mesmo tempo que ela, pois sinto-me sem nenhum tipo de controle sobre mim próprio.

– Não pares, meu grande cabrão! Ouviste? Não te atrevas a parar! Faz-me vir outra vez!

Mas então é minha vez de lhe tirar o doce e de a torturar um bocado. Estou completamente entregue àquele corpo e quero explorar cada poro e cavidade que ele me oferece. Por isso, arrasto-a para cima da cama e enterro a cabeça entre as suas pernas. Pretendo lambê-la forte e feio nas partes baixas. Mas Lena não me deixa chegar ao ponto. Não ficou contente com a mudança do programa e debate-se: arranha-me as costas, puxa-me os cabelos e tenta esmurrar-me na cara. Naquele momento, é pouco mais que uma fera dominada por um torpor raivoso e sexual que pouco tem de humano. Tenho que lhe apertar o pescoço para a acalmar.

– O que é que vais fazer? – diz ela, com voz de bicho, quando consegue recuperar a faculdade de comunicar.
– Vais-me violar?

Mais uma vez, fico abananado com a sua forma de falar.

– Vais-me violar, não vais, cabrão? És como os outro todos, um filho da puta sem perdão! Um covarde! Então, vais-me violar ou não…? – pergunta, como me visse paralisado diante das suas acusações e insultos.
– Quero que me violes, ouviste?! Quero que me fodas à força toda!
– Está bem…
– Não digas “está bem”, meu grande paneleiro! Não quero que faças nada por minha vontade! Quero que faças coisas contra a minha vontade!
– Ai queres? – aperto-lhe mais o pescoço. – Ai queres?

Ela grita e esperneia e, finalmente, desço até ao meio das suas pernas e começo a lamber-lhe a cona, enfiando-lhe ao mesmo tempo um dedo no cu.

– No cu não! Aí não…!!

Teria parado no acto, não fosse a boca do seu cu contrariar por completo o que a sua voz anunciava. Assim que sentiu o meu dedo entrar, os seus músculos anais distenderam-se de imediato, abrindo como as pétalas de uma flor na primavera. A forma lânguida e abandonada como suspirou também não enganava: desejava e estava a adorar aquela abrupta invasão!

Decido, assim sendo, entrar no seu jogo:

– Ai no cu não?!
– Não gosto! Faz doer…
– Estou-me a cagar para o que tu gostas e para o que te faz doer! Vou-te violar e é neste cu porco cheio de merda!

Lena revira os olhos e um pequeno sorriso diabólico floresce nos seus lábios. Volto a chupar-lhe a cona e fodo-lhe o cu com o dedo durante mais um bocado, até que percebo que está prestes a vir-se novamente.

Numa inspiração de momento, para a excitar mais no seu clímax, subo até à sua cara e meto-lhe o caralho, que então parece gigantesco, à frente dos olhos:

– Estás a ver o que te vou meter na peida? Achas que vai caber? Tens cu para ele?

Aquela visão é final para ela. Rebenta num orgasmo demencial, revirando-se toda na cama, gemendo aos soluços e uivando como uma loba. E aproveitando a onda de choque do seu orgasmo, enrabo-a.

Nem uma queixa, nem uma reclamação, nem o mais pequeno indício de contrariedade. Apenas indisfarçável deleite. Lena desata a arfar como se estivesse a experienciar o maior prazer da sua vida.

– Fode, fode, fode, meu bom amigo… És um bom violador! Fode esse cuzinho todo!

Enterra a cabeça nas almofadas e ajuda com as ancas o vai-e-vem que a perfura por trás.

Fodo-a assim um bocado e, compreendendo os meus próprios limites, tenho a intenção de terminar ali mesmo a minha cruzada:

– Vou-te encher o cu de esporra. Queres? Queres que me venha no teu rabinho lindo?
– Não, espera. Vem-te na minha cara… Nunca fiz. Quero fazer contigo…!

Confesso que eu próprio nunca tinha feito. Era algo que considerava demasiado ligado à pornografia e, para além disso, não há nada melhor do que sentir o pulsar do esperma a sair da picha com os músculos duma cona ou de um cu a apertá-la. Ainda assim, confesso que a perspectiva me excitava pela novidade. E, em face do que se tinha passado até aí entre nós, parecia fazer sentido.

Com todo o carinho do meu furor sexual, faço enfim a descarga da minha paixão acumulada na sua cara de pulsante desejo. Lena geme cada vez que sente o impacto do meu jacto sobre si, resgatando com os lábios pequenas porções que se acumulam em diversos pontos da sua pele.

Depois dessa noite, Lena e eu chegamos a um compromisso. Os dois ainda achamos que “às vezes vale mais só do que bem acompanhado”. Mas, no resto das vezes, vale tudo menos tirar olhos.

Créditos: Armando Sarilhos (este homem é um deus da literatura pornográfica)
Retirado de outro site

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